Estamos iniciando mais um ano letivo e procuramos começar fugindo do clichê da “redação sobre as férias” no primeiro dia de aula. Resolvi levar para a turma do 2º ano de Química (IQUI-22) do IFAM-CMC algumas provocações na forma de textos e ideias e pedi que eles produzissem um texto de abertura a partir das minhas sugestões.

Os motes…

Quase no finzinho de janeiro meu eterno aluno Juan Pablo Gomes publicou um texto em sua conta do Facebook que girava em torno de literatura e do incentivo à leitura:

Quando li esse texto, já tive aquela epifania professoral e pensei “preciso levar esse texto para os meus alunos. Levei várias cópias impressas da postagem do Juan, junto com mais dois textos que deveriam ser lidos na sequência. Um deles, uma redação nota 10 do ENEM de 2006, que teve como tema, naquele ano, O poder de transformação da leitura. A redação se chama “Quadro Negro” e você pode lê-la neste link. O outro era uma notícia do site G1, de 2012, que afirmava em sua manchete que Número de leitores caiu 9,1% no país em quatro anos, segundo pesquisaApós a leitura desses textos, o desafio era cada aluno produzir um texto sobre leitura, mas utilizando a metáfora e referências às cores.

Os resultados foram fantásticos! Os alunos partiram de vários pontos de vista e produziram textos muito originais, criativos, sem esquecer da coerência. Em uma aula eles leram os textos e fizeram uma primeira versão de seus textos. Corrigi em casa, e na aula seguinte, dois dias depois, pedi que eles passassem a limpo a partir de minhas observações e redigissem então a versão final de seus textos.

O resultado…

Abaixo, a íntegra de alguns dos textos produzidos nessa atividade:


Leitura, o Sol que ilumina

Joelly Angel Costa Delgado

Em meu curto período de vida, aprendi e vi coisas que me deixaram boquiaberta e mais esperta para a vida.

Lembro-me, como se fosse ontem, de quando estava na terceira série e conheci a melhor professora daquela época, a Lucy.

Lucy abriu meus horizontes cinzentos para um azul estonteante, para que eu mesma pudesse colorir com as cores do arco-íris a leitura e a liberdade que ela me propôs.

Eu não era uma menina da Lua, a leitura me ensinou a ser astronauta; não era uma viajante e jamais tinha viajado de trem: libertei-me nos livros do Harry Potter na plataforma 93/4 (graças à leitura).

E graças à autora brasileira, Paula Pimenta, aprendi que para ser princesa eu não preciso de uma coroa, mas sim, de um coração bom e puro, que a beleza é interna.

A leitura me levou para onde o céu é todo tempo azul, me abriu os olhos para os céus estrelados da interpretação, lembrou-me do amarelo do Sol que ilumina, a leitura.


Palavras que pintam

Stefany Caroline Ferreira dos Santos

Nunca me esqueço do dia em que li meu primeiro livro. Minha mãe tinha voltado a estudar e, sempre apaixonada pela leitura, foi logo visitar a biblioteca. Quando ela voltou para casa, ela já tinha tomado emprestado dois livros: Um anjo mentiroso e Terra dos Gorilas.

Eu, nos meus dez anos, não tinha interesse algum na leitura, mas, despertada uma incomum curiosidade em mim, comecei a ler Um anjo mentiroso. A verdade é que não demorou muito tempo para que eu estivesse completamente apaixonada por ele, e assim que eu o terminei, logo comecei a ler Terra dos Gorilas.

Depois disso, eu comecei a pedir livros a minha mãe cada vez mais, e então passei a frequentar a biblioteca da minha escola e, quando não foi o suficiente, passei a frequentar livrarias e procurar livros na internet.

Ao longo dos anos eu fui ficando cada vez mais apaixonada pelos livros, não existia um único dia que eu não lesse. Os livros não foram para mim apenas um passatempo, eles foram meus companheiros e instrutores, e para aquela menina de dez anos que vivia em um mundo cinza, foram eles que trouxeram cor e alegria.


O arco-íris dono das minhas leituras

Maria Gabriela R. Barbosa

É normal que tenhamos uma inspiração para começar o interesse pela leitura, seja uma professora, um pai, curiosidade, ou uma amiga, e foi o que aconteceu comigo, eu não tinha interesse algum por leitura, até que em uma certa escola, numa certa turma, conheci minha fonte de inspiração.

Ela é incrível, linda externamente, e logo descobri que é linda internamente também. Era encantador ouvir histórias de livros já lidos por ela, e foi aí que despertou meu interesse. No começo, foi bem complicado eu conseguir ler um livro sem enjoar, se eu descobri o motivo, foi porque não era o livro certo, e para uma pessoa que estava começando, foi bem normal. Ela foi me dando indicações, e eu fui lendo até encontrar os estilos que mais interessavam-me.

Quando descobri, foi aí que não parei mais com a minha fome de leitura. Romance, ficção e até aqueles reflexivos, são os que mais gosto. Obrigado, Luciana, por ser meu arco-íris no meio do céu escuro sem livros em que eu vivia.


Parede Branca

Mateus Henrique Gonçalves Nogueira

Acordei em um quarto branco, inteiramente branco. Era vazio e frio, havia apenas luzes que faziam meus olhos arderem. Minhas roupas também eram da mesma cor que as paredes daquele lugar.

– Oi? Que lugar é esse? O que está acontecendo? – Perguntei com a esperança de alguém me responder, mas não houve nada além do silêncio.

O silêncio. Ah! O silêncio era gritante e ensurdecedor. Eu não podia ficar ali.

Com toda minha força, empurrei meu corpo contra a parede. 3, 4, 5 vezes… Minha tentativa foi em vão… Nada mudou. Então, gritei! Gritei em desespero, gritei por algo, gritei para quebrar o silêncio que me sufocava a alma e um barulho se fez. Como mágica, surgiu um livro.

Ele tinha a capa colorida, com inúmeras folhas, sem título, sinopse, nada. Como não havia mais o que fazer, eu o li. Era um livro de aventura, havia dragões, cavaleiros e donzelas em perigo.

Era estranho, pois eu podia sentir o que o protagonista sentia. Podia ver através de seus olhos quando ele entrou no castelo e, cheio de coragem, enfrentou o terrível dragão e enfim, pôde salvar sua linda princesa.

Por um instante, eu não estava mais no quarto branco e tudo que estava à minha volta foi se transformando. Naquele momento, eu percebi que havia quebrado as paredes brancas da minha mente.


Sem título

Quézia Rodrigues dos Santos

Novas na cidade, Catarina e Juliana estão conhecendo pessoas novas, se adaptando nesse lugar, inclusive na escola, pois elas tinham muitas dificuldades na leitura. Era tudo colorido, animado, totalmente diferente da antiga escola.

Chega o primeiro dia de prova, Júlia e Catarina não conseguem responder, pois não conseguiam ler, e elas pedem ajuda da professora, que diz:

– O que tá acontecendo?

– Professora, viemos de outra escola e lá não ensinavam a leitura, como ensinam aqui.

– Sério? Meninas, vocês têm que deixar esse mundo da tecnologia e ler livros, escrever textos; isso vai ajudar muito.

– A senhora vai nos ajudar?

– Claro que sim! No fim da tarde, vou ensiná-las uma forma muito fácil de ler.

As duas ficaram muito felizes e super ansiosas. Às 16 horas elas entram na escola e está tudo colorido, com várias palavras.

– Minhas meninas, vamos começar… olhem esta frase “AMOR COM PAZ”, podem ver que o “AMOR” está representado na cor vermelha e “PAZ” de branco.

Júlia interrompe falando:

– Assim podemos identificar algumas palavras através das cores.

– Isso mesmo, Júlia.

Assim, elas três continuaram estudando. A professora deu vários livros, pediu para escreverem textos para ajudar na escrita. E as meninas foram aprendendo e mudando sua forma de pensar.


Viagens coloridamente diferentes

Rute Oliveira de Almeida

Era uma vez um menino que adorava ler. Ele já havia lido de tudo, desde a Bíblia Ilustrada às fábulas de Esopo. Seu mundo era repleto de obras e seu caderno cheio de palavras azuis.

Um dia, esse menino perdeu a conta de quantos livros já tinha lido, afinal de contas foram mais de três mil obras! Mas ele não parou, até porque a leitura é a forma mais econômica e eficaz de viajar.

Um certo dia, esse menino tornou-se um homem, mas o espírito do menino que viajava dentro dos livros não desapareceu. Na verdade, nos dias atuais, ele ensina outros meninos a viajarem como ele.


E você, o que achou da ideia da atividade e dos textos produzidos? Deixe o seu comentário!