Durante minha trajetória no magistério, percebi que os alunos, em geral, têm dificuldades de expressar suas ideias por meio da palavra escrita. Na maioria das vezes, para eles, escrever é uma atividade tensa e até mesmo angustiante. Primeiro, porque eles não possuem o hábito de escrever. Segundo, porque não são oferecidas oportunidades que possibilitem o acesso a diversos gêneros textuais.


Além de escreverem pouco, quando escrevem, geralmente seguem modelos pré-estabelecidos, com o objetivo apenas de escrever para a prova do vestibular ou para receber uma nota atribuída pelo professor de Língua Portuguesa. Isto faz com que os alunos não se percebam autores de seus próprios textos.


O tipo de texto mais utilizado na sala de aula é sempre: “fale sobre”. Os temas geralmente são os mesmos todo ano: suas férias, sua família, seu cachorro. Onde estão os textos dos mais diversos gêneros e funções? Quanta riqueza desperdiçada! Chiappini (2001) critica as apostilas, utilizadas por várias escolas, por trazerem conteúdos resumidos, leituras demasiadamente limitadas, pouco críticas e, às vezes, inadequadas ou equivocadas. Em vez de ajudarem a expandir, limitam o conhecimento.


A produção textual em sala de aula é uma atividade que visa minimizar estas limitações. Porém, só é possível a partir de uma metodologia que priorize o planejamento de ações motivadoras e ultrapasse os entraves que impedem uma produção textual criativa e autônoma.


O projeto desenvolvido e apresentado neste portfólio on-line teve por objetivo despertar o interesse dos alunos pela leitura e escrita em língua portuguesa. Como motivação para alcançar esta meta, desenvolvemos uma proposta interdisciplinar reunindo professores de Língua Portuguesa, História e Geografia que atuaram numa abordagem baseada em projetos. O projeto consistia na criação, pelos alunos, de um livro digital contando a história dos principais monumentos históricos da Cidade de Manaus utilizando a literatura de cordel.


O cordel foi escolhido por tratar-se de um gênero literário popular, de fácil compreensão e elaboração, rica musicalidade que aguça a criatividade. Características adequadas para o trabalho com alunos do Ensino Médio profissionalizante, com média de idade de 14 anos que foi o nosso público alvo. Embora o cordel seja uma produção em formato de folheto, a equipe decidiu um livro digital, pois a turma de alunos pertencia ao curso técnico de Informática e com este projeto tiveram mais uma oportunidade de exercitar suas habilidades nesta área profissional. Por isso, a presente proposta nasceu da necessidade de se discutir como desenvolver um projeto de produção textual no Ensino Técnico que busque superar a ideia de que produzir texto em sala de aula é apenas fazer “redações” (entendidas geralmente como textos dissertativos), com o objetivo de entrar para a Universidade, achando que esta é a única forma de escrita a ser trabalhada na escola.


Para tanto, propusemos um projeto de práticas de leitura e escrita que visa estimular a criatividade e a possibilidade de os alunos se enxergarem como autores de suas produções textuais em sala de aula. A Literatura de Cordel foi escolhida, dentre tantos gêneros, devido às suas características peculiares, tais como a espontaneidade, a fácil compreensão da leitura, a forma poética e a musicalidade. Sua utilização em sala de aula pode ser um caminho para incentivar, nos alunos, o interesse pela leitura e produção textual, justamente por ser caracterizada pelos ritmos da oralidade, retratando fatos do cotidiano sociopolítico, econômico, cultural, religioso, educativo.

REFERÊNCIAS

CHIAPPINI, Lígia. A Circulação dos textos na escola – 2. In: BRANDÃO, Helena N. Gêneros do discurso na escola: mito, conto, cordel, discurso político, divulgação científica. São Paulo: Cortez, 2001, p. 9-15. [Coleção Aprender e Ensinar com Textos; v. 5]