Texto escrito e dedicado a mim por Cássio Glauber Santos Bernardes. Foi meu aluno no ano de 2008, quando cursava o 3º ano de Informática no outrora CEFET/AM. Atualmente, o Cássio é Advogado Especialista em Direito Tributário.

Havia na escola em que eu cursava o ensino médio uma professora de língua portuguesa diferente de qualquer outra que passara pela minha vida. Além de lecionar com paixão, ela dizia para os quatro cantos da escola ouvir: “Estamos aqui para fazer revolução!”. Aquela baixinha de cabelos curtos tinha declarações altas a respeito da verdadeira arte de ensinar. E ela era realmente uma artista. Nunca vi alguém colocar tanto amor nas explicações de literatura. E o que dizer das aulas de redação? Eram verdadeiras viagens ao mundo dos pensamentos e palavras. Quando o assunto era gramática, ela era implacavelmente contra, pois na sua concepção era mais um instrumento de exclusão. Certa vez ela disse: “Quero que os gramáticos queimem numa fogueira, comigo dançando ao redor!”

A Revolucionária estava totalmente fora dos padrões tradicionais e ultrapassados daquela escola. E por isso era censurada em quase tudo o que fazia. Suas declarações eram verdadeiras bombas nas mãos dos “poderosos”. Lembro muito bem quando ela entrava na sala de aula e dizia pra todos ficarem espalhados: “Não quero isso aqui igual a um quartel, um olhando no pescoço do outro!”

E dessa forma ela conquistou nossa turma. A Revolucionária tinha um objetivo que perseguia intensamente: fazer seus alunos mudarem a visão das coisas, olhar por cima. Com ela nós éramos sempre mais, nos sentíamos fortes, invencíveis!

Quando ela passava no corredor era quase uma festa. E tinha uma gargalhada inconfundível, que ouvíamos de longe. Nunca a vi de mal com a vida. Era alguém que trazia um largo sorriso e o espalhava como um doce perfume.

Enquanto estive ali naquela escola, eu a vi lutar por seus alunos, defender suas idéias, independentemente de quem não gostasse. Ela não jogou a toalha em momento algum.

A imagem que ficou da Revolucionária foi de uma educadora à frente de seu tempo, que não cabia naquele espaço. Foi de alguém que tentou transformar alunos em “mágicos” das palavras, em críticos de tudo. Ela nos fez subir em cima da mesa e mudar de visão.

E nós, que com ela dividimos aquela pequena sala, incapaz de segurar seus ideais, seguimos pensando que, pra se conseguir algo nessa vida não basta viver. É preciso fazer revolução!